Em outro trecho da gravação, o vereador diz “que já morou em Capital, onde andava sem habilitação e não tinha blitz toda hora” como ocorre em Espinosa. Ele afirma ainda que “não é possível que esses ‘caras’ [policiais] tenham mais autoridade do que nós [vereadores]”.
Segundo a Polícia Militar, o filho do vereador, de 21 anos, já foi flagrado pelo menos três vezes, registradas em boletins de ocorrência, cometendo infrações de trânsito em Espinosa, mas não neste ano. Em 2014, quando ele ainda era menor de idade e inabilitado, foi abordado pilotando uma moto.
“Ele já foi abordado em situações onde, em primeiro momento, foi autuado porque era menor de idade, pilotando uma motocicleta. Isso na primeira vez. No boletim, foi registrado que ele estava fazendo ruídos com a descarga da motocicleta. O veículo foi removido e foi feita uma autuação”, relata o tenente da PM de Espinosa, Guilherme Rodrigues.
Em 2017, o filho do vereador foi autuado por mais duas vezes. Na primeira delas, a que se referiu o vereador durante reunião da Câmara, o rapaz fugiu de uma abordagem policial, mas foi identificado pela placa do veículo. A motocicleta era a mesma conduzida por ele quando foi abordado em 2014. Segundo a PM, a autuação foi feita através dos dados do condutor, relacionados à placa da moto.
Na segunda autuação, o rapaz chegou a ser preso, de acordo com a PM. O jovem teria emprestado o carro dele para que um homem sem habilitação dirigisse. “O filho do vereador estava no banco do passageiro, acompanhado por mais dois homens. Quando o veículo foi parado e ficou constatado que o motorista não tinha habilitação, o rapaz falou para a polícia que emprestou o carro para a pessoa inabilitada dirigir e foi preso”, explicou o tenente Guilherme Rodrigues.
Em resposta as acusações feitas pelo vereador, a Polícia Militar informou, por meio de nota, que a instituição busca proteger a sociedade e atua em conformidade com a lei. O órgão ressaltou ainda que vai continuar com as ações para manter a ordem pública. “Lamentamos que tal manifestação venha de uma pessoa que deveria ter por princípio a defesa da lei, dos valores morais e da ética na política, o que nos causa espécie e faz refletir sobre nossa representação nas casas legislativas”, diz a nota.
Vídeo
O que diz o vereador
Por telefone, o vereador Edvaldo Fagundes (PSDB) informou que em nenhum momento quis se posicionar contra a Polícia Militar, mas que a PM cobra preços abusivos por infrações de trânsito e tem sido muito incisiva em uma cidade carente.
“Eu não sou contra a polícia. Só queria que a polícia amenizasse. Eles cobram um absurdo de guincho, não emitem nota fiscal, fora a multa. Não sou contra o serviço da polícia, talvez eu tenha me expressado mal. Fiquei nervoso na hora porque é uma cobrança da população. Queria que fosse feita uma pesquisa na zona rural, nos bairros humildes, para vocês verem se estou errado. Às vezes a pessoa não tem condição de pagar e a polícia vai até essas pessoas”, diz o vereador ao G1.
Sobre ter citado o caso do filho em plenário e ter feito acusações contra a PM, Fagundes diz que quis exemplificar para que situações de abuso da polícia ficassem claras, conforme aconteceu com o filho. “Meu filho trabalha de moto-táxi. Ele foi atender uma cliente na zona rural que iria pegar condução para ir à faculdade e não podia se atrasar, por isso foi visto pela polícia correndo. Como estava de chinelo e a carteira é provisória, resolveu fugir. Eu dei o exemplo do que aconteceu com ele”, conta.
O vereador reconheceu que o filho errou por ter fugido, mas disse que ele não fez por mal. “Eu acho errado correr. Ainda questionei meu filho. O que ele fez não foi certo, mas o policial que seguiu ele tem costume de bater quando pega os jovens, por isso meu filho ficou com medo. A pessoa jovem não tem experiência. Se fosse eu, iria parar, deixar que me multassem”, afirma.
Pela infração cometida pelo filho, Edvaldo conta ter recebido uma multa de R$ 4.560. “A segurança é ótima, mas podia aliviar. A cidade não tem suporte para isso. Eu quis dizer na reunião sobre o excesso de blitz. A cidade é pequena e carente. Mas sobre o serviço deles, está certo. Essa minha opinião é reflexo do que o povo me cobra. Se eu não tivesse condições, não ia ter como pagar a multa”, comenta o vereador.
Em nota, a Câmara Municipal de Espinosa esclareceu que o pronunciamento do vereador constitui opinião pessoal e “não pode ser considerado como entendimento consagrado por todos os membros da Câmara, composta por 13 parlamentares”. A Câmara disse que desconhece qualquer excesso ou ilegalidade praticado pela polícia na cidade.
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